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Rosa Azul - Estrela do Mar - Carla Sofia
Estes belíssimos textos são de autoria da minha ilustre amiguinha de Portugal: Rosa Azul - Estrela do Mar - Carla Sofia. Eles foram disponibilizados da forma exata em que ela me enviou.
A Gotinha
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Era uma vez uma gotinha no mar, Que estava com calor e vontade de viajar. Vestiu umas asas de borboleta, E resolveu visitar outro planeta. Voou, voou até mais não poder E sem saber como acabou por adormecer. Acordou numa cama branca fofinha E junto dela outra gotinha. A gotinha sorriu e nada perguntou, Porque de imediato se enamorou. As gotinhas foram ficando, E cada vez mais gotinhas as visitavam. A caminha foi ficando muito pesada E um belo dia acabou quebrada. Milhões de gotinhas caíram do céu E o meteorologista disse que choveu.
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FIM
O Menino Tempo
O Tempo é um menino muito traquina que tem dentro da barriga um relógio. O relógio dá sempre horas, mas não é para o menino comer. O relógio dá horas para o pai e a mãe irem para o trabalho e a Maria ir para o infantário. O relógio dá horas para o Sol Brilhar ou se esconder e a Lua aparecer. Um dia o menino Tempo esqueceu-se de dar corda ao relógio e adormeceu ao som do tic-tac, tic-tac ....da sua barriga. Quando acordou o relógio estava parado e o Universo preso no último segundo que o relógio tinha contado. O passarinho estava imóvel no céu, a Maria como uma estátua, de boca aberta e colher na mão, o nosso planeta parado na sua órbita.... O menino Tempo olhou para o Universo assim quietinho e pensou que sem ele o mundo era um aborrecimento. Deu logo corda ao relógio e o Universo retomou a sua vida normal.
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Viu então a Maria a começar a comer a papa, o passarinho a levantar voo, a Terra na sua órbita normal... No entanto, pensou o menino Tempo, o Universo tinha perdido tempo precioso, e tudo por causa do seu desleixo. O tempo não tinha existido durante a sua soneca... Pensou no que poderia fazer para remediar a sua asneira. Resolveu falar com doutores do tempo de todo o Universo e cada um deles lhe deu uma solução para o problema. Falaram-lhe de buracos negros onde o tempo podia ser invertido, por exemplo. No entanto tudo isto parecia ao menino Tempo demasiado complicado. Decidiu por isso pensar ele mesmo numa solução para o problema. Pensou, pensou, pensou.... Quando estava quase a desistir teve aquilo a que nós os humanos chamamos uma ideia luminosa. Bastava-lhe atrasar o relógio! O menino Tempo atrasou o relógio na sua barriga, até 5 minutos antes de este ter parado durante a sua soneca. E passado 5 minutos viu a Maria meter a colher na boca, que por seu descuido tinha ficado uma eternidade parada no ar com a Maria Pia feita estátua de cera. O menino ficou contente por ter conseguido resolver um problema tão complicado e nunca mais se esqueceu de dar corda ao relógio na sua barriga.
FIM
O Segredo
Estava uma menina num jardim muito bonito quando ouviu perto de si um barulho muito estranho. Ouviu um zzzzzz que só podia ser de quem estava a dizer um segredo. A menina voltou-se e viu então uma abelhinha pequenina poisada numa flor azul. A menina curiosa aproximou-se porque queria saber o segredo, mas por mais perto que estivesse da abelhinha só conseguia ouvir aquele zzzzzzz...... Foi então que teve uma ideia. Resolveu cortar a flor e encostá-la mesmo à orelha. Se rápido o pensou, mais rápido o fez. Cortou a flor azul mas, para seu espanto, a abelhinha deixou a flor e partiu com o seu zzzzzzzz.... A menina perguntou então à flor que segredo era aquele. Sabes o que a flor lhe disse? Que o segredo existia na cabeça da menina.
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FIM
O Tigre Sonhador
Era uma vez um Tigre às riscas verdes e azuis que vivia no país encantado da Eterna Infância. Este tigre, mesmo em tal país, era um animal diferente dos outros. E isso não acontecia por ter cores tão invulgares. No país da eterna infância todos os animais tinham as cores que desejavam e como o Tigre queria o seu pelo em tons de azul e verde as suas riscas eram dessa cor. Este Tigre era especial porque não tinha sonhos. Bem, podes achar que isto não é nada de especial, mas neste país todos os seres tinham sonhos. Todos, menos o tigre. Como tal era possível, ninguém sabia. Havia mesmo quem duvidasse que o tigre dissesse a verdade. Um dos que mais duvidava das palavras do Tigre era o mocho, que por acaso era castanho como acontece em Portugal. O mocho dizia que tal não era possível. Que era possível em muitos países. Que era possível em Portugal, em França, em Espanha e em muitos outros países. No entanto tal não podia ser possível no País da Eterna Infância. Porque, dizia o mocho, no país da Eterna Infância, todos têm esperança. O Tigre de resto não estava para essas coisas complicadas. O que é ter esperança? Sempre que ele tentava pensar nesses assuntos complicados ficava com uma terrível dor de cabeça e com uma vontade enorme de comer bolachas de chocolate, que infelizmente lhe faziam mal à barriga. Um dia o Tigre foi à Loja da Dona Catatua comprar bombons e viu um livro empoeirado junto da arca dos brinquedos. O que estava um livro a fazer na Arca dos Brinquedos? Pensou o Tigre para os seus botões. Olhou mais de perto e leu o título: “ H-I-S-T-Ó-R-I-A D-A M-A-R-I-A P-I-A”. - Quem é a Maria Pia? Perguntou o Tigre. - É uma menina que não pertence ao nosso mundo. Disse a Dona Catatua. O Tigre ficou curioso e comprou o livro. Leu que a Maria Pia era uma menina linda com olhinhos ora verdes ora azuis como as suas riscas, que vivia num país muito distante chamado Portugal. O Tigre começou a sonhar com esta menina todas as noites. Sonhava que eram muito amigos e que ela também gostava muito dele. O mocho com toda a sua sabedoria concluiu que afinal o Tigre era igual a todos os animais da Eterna Infância, e que a esperança afinal não é necessária aos sonhos. O Tigre ficou com uma dor de barriga....
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FIM
Sírius
Pequenos pontos de luz num mar negro ocupavam todo o lugar do olhar de Sírius. Para Sírius este lugar era a sua casa e a plataforma vidrada da nave espacial a sua varanda.
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Esta menina com apenas 10 anos conhecia a Via Láctea melhor que ninguém. Nascera nesta aventura do espaço em 25145, no Braço Externo de Perseu, e os seus pais astrónomos chamaram-lhe Sírius. A Nave Espacial tinha partido da Terra em 25131, de modo que Sírius não sabia o que era acordar de manhã com um céu azul à espera. Os seus pais falavam-lhe muitas vezes do céu , do sol e da lua, do mar e da enorme variedade de vida no planeta Terra. Sírius ouvia-os com olhos brilhantes de entusiasmo. Na sua nave não havia animais e o único contacto possível com essa realidade longínqua era através das câmaras de simulação, onde Sírius podia caminhar pela savana africana ou estar frente a frente com um urso polar. No entanto Sírius sabia que essa realidade virtual estava tão longe de si como a sua dum menino da Terra. Sírius era uma menina do espaço, com um olhar que reflectia a imensidão e a solidão do Universo. As histórias maravilhosas que os seus pais lhe contavam, o que ela experimentava nas câmaras de simulação, tinham o sabor duma fábula. No fundo tudo o que na Nave Espacial a acompanhava da Terra era a sua humanidade. Era a sua fisionomia e a forma como se relacionava com o que a rodeava. Sírius perguntava-se muitas vezes se a sua humanidade estaria à altura dos desafios que o Congresso das Civilizações do Universo decerto lhe iriam colocar. Apesar de os seus pais e professores vissem a crueldade e maldade dos homens como algo longínquo no tempo, Sírius sabia que em si também estava todo o passado. Ela era o resultado de acasos milagrosos e de uma luta sangrenta pela sobrevivência. Teria ainda ela em si a maldade e crueldade que marcou durante tanto tempo a humanidade? Afinal, tinham passado apenas dez milénios desde a última guerra humana... Afinal, a fome nos homens tinha persistido durante catorze milénios... Sírius ficava angustiada quando pensava nestas coisas, sobretudo por não saber a resposta a esta pergunta inquietante. O que entretanto teria mudado de substancial no homem? Os estudos científicos não demonstravam qualquer diferença significativa entre o homem contemporâneo e o primeiro homem sapiens sapiens. No entanto, este homem imutável a nível fisiológico tinha mudado fundamentalmente a nível de comportamento. Todas as pessoas que Sírius conhecia eram bondosas e compreensivas. As únicas ambições destes homens eram as de viver pacificamente, desvendar mistérios e a de acrescentar beleza ao mundo. Não competiam entre si; competiam com eles próprios na expectativa de se ultrapassarem e tornarem melhores. A ternura entre eles era uma constante e tinham sempre uma palavra amiga para o companheiro desta maravilhosa viagem. Sírius não compreendia como estes seres bons que a rodeavam, pudessem um dia ter cometido as atrocidades do passado. Sim, porque os homens e mulheres daquela nave eram fisiológicamente os mesmos do século X ou do século XXI. O que entretanto teria acontecido? A menina do espaço não compreendia esta mudança, nem sabia afinal o que era ser humano e por isso resolveu consultar os arquivos históricos da humanidade. No pequeno monitor à sua frente recuou até aos primeiros registos digitais da história humana. À sua frente aparecia ainda um mundo organizado em países, uma humanidade dividida não apenas por fronteiras mas também por preconceitos. Sírius viu passar no ecrã o relato das catástrofes naturais do século XXI e também as justificações mais absurdas para a desigualdade entre seres humanos. Viu continentes inteiros devastados pela fome e pela doença, viu guerras cujo único real motivo era o poder.
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Sírius sentiu uma lágrima correr pela face. Há muito tempo que Sírios não chorava. Não chorava desde que a sua consciência de criança lhe tinha garantido que não valia a pena chorar. Não precisava de chorar para comer, ou para que a sua mãe lhe fizesse um afago. Sírius precisava apenas de falar, de pedir o que precisava e tal lhe era concedido. A menina do espaço não se reconhecia nos homens e nas suas decisões do passado. Sentia uma tristeza incomensurável dentro de si e procurou a paz que lhe fugia na imensidão de espaço que se espalhava nos seus olhos na plataforma vidrada da sua nave espacial. Sírius sabia que em breve a Via Láctea iria ser apenas uma recordação e procurou reter na memória a singular beleza da sua galáxia. A proximidade de Cassiopeia anunciava o termo desta gigantesca cornucópia que era a Via Láctea e Sírios imaginou-se num escorrega galáctico infinito.
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A tristeza abandonou-a por momentos através dum artifício de imaginação e sensibilidade. Quando abriu os olhos do sonho o espaço infinito estendia-se como sempre em todo o horizonte e Sírius sentiu-se reconfortada pela paz silenciosa da sua galáxia. Sem saber como, a menina percebeu que se o sonho era tão importante na sua vida também o deveria ter sido na vida dos homens do passado. Olhou mais uma vez a Cassiopeia no fundo dos seus olhos e resolveu consultar novamente os arquivos da humanidade. Digitou as palavras sonho e sensibilidade no motor de busca do arquivo histórico da humanidade e uma profusão de poetas, cientistas, artistas, filósofos, músicos e religiosos desfilaram no seu olhar. Sírius surpreendeu-se e emocionou-se com a beleza desses homens e mulheres que numa realidade tão agreste persistiram em conhecer e dar beleza ao mundo. A menina não pode deixar de pensar que muitos desses homens e mulheres seriam no fundo ainda melhores que as pessoas que conhecia na nave. É verdade que tudo o que conhecia dos seus companheiros de viagem era bom mas a verdade é que estes sempre tinham vivido num mundo pacífico e tolerante. Como teriam sido essa pessoas se vivessem num tempo em que a desumanidade nas sociedades era uma regra? Sírius não sabia a resposta a esta pergunta. Provavelmente algumas delas persistiriam coerentes à sensibilidade que Sírius conhecia e outras cederiam perante o fardo da sobrevivência ou da ganância. A menina do espaço sentiu-se um pouco mais leve. Ainda não tinha todas as respostas que procurava mas mesmo não sabendo tudo o que queria, podia apresentar estes homens e mulheres do passado no Congresso das Civilizações do Universo e dizer :” Ser humano também é ser desta forma”. Sírius estava um pouco confusa; parecia-lhe que a humanidade era capaz de coisas maravilhosas e simultaneamente de coisas ignóbeis. Esta diversidade de comportamentos numa realidade comum como poderia ser explicada? E porque teria sido este presente que Sírius vivia, o futuro escolhido pelos homens nesta história de avanços e recuos da humanidade? Mais uma vez Sírius procurou a sua varanda espacial para pôr as ideias em ordem. Andrómeda acenava-lhe com o seu braço de estrelas e planetas e Sírius perguntou-se se nessa galáxia um menino de outro mundo faria estas mesmas perguntas sobre a sua civilização... Sírius não conhecia meninos de outros mundos. Aliás, ninguém no planeta Terra conhecia seres de outros mundos. O convite para o Congresso das Civilizações do Universo tinha sido descoberto nas canções das baleias dos oceanos da Terra.
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Um segredo muito bem guardado desde tempos imemoriais. Estranhamente tinha sido descoberto no exacto momento em que os homens detinham os meios e os conhecimentos necessários para empreender esta viagem espacial. Sírius continuava sem saber se ser humana era uma coisa boa ou má mas sentiu-se grata por questionar-se e emocionar-se sobre o Universo. Lentamente a iluminação da nave ia ficando mais ténue e a menina do espaço, tal como todos os seus companheiros de viagem, percebeu que estava na hora de dormir. Dirigiu-se ao pequeno compartimento onde estava alojada a sua família e encontrou os pais à sua espera. Como sempre, tinham dedicadamente uma história guardada para ela. Uma história sobre a vida duma flor, que para alguém mais distraído pode ter como fim o encanto dos nossos olhos. Lentamente Sírius despiu as perguntas que a tinham atormentado durante todo o dia e adormeceu cerrando as pétalas dos olhos. Quando acordou nesta noite perpétua que é o Universo, tinha os braços dos pais à sua espera e as habituais palavras de ternura. Sírius não pode deixar de se sentir agradecida por este tempo ser o tempo da sua vida e perguntou-se como os humanos do futuro olhariam para o seu presente... Perguntou-se se não encontrariam em Sírios e nos seus companheiros de viagem a hipótese de uma critica. A menina pensou que provavelmente sim, mas que até ao momento a humanidade já tinha percorrido um longo caminho. A menina sentia-se orgulhosa por fazer perguntas tão complicadas e complexas. Perguntas a que nem mesmo os seus pais poderiam responder, pois apesar de serem adultos não tinham vivido em outro tempo além do das suas vidas e não sabiam portanto como teriam pensado e sentido se as suas circunstâncias fossem diferentes. Sírius pensou então que talvez fosse importante saber como teria sido a vida de alguém no passado. Mais uma vez dirigiu-se aos arquivos históricos da humanidade e colocou o dedo de criança sobre o globo azul no ecrã, que os seus pais lhe haviam dito tratar-se do seu planeta de origem, o planeta Terra. Surgiu então no monitor o lugar que o seu pequeno dedo inconsciente tinha escolhido, uma cidade de nome Trofa. Sírios escolheu o século XXI e calcorreou esta cidade na imaginação; visitou a Igreja Matriz , passou em frente ao pelourinho... Mas isto não era suficiente; Sírios queria saber como seria o quotidiano de uma menina da sua idade. A menina pesquisou um pouco e ficou a saber que para alguém da sua idade naquele lugar, o dia a dia era preenchido entre a escola e a vida familiar. Ficou também a saber que a escola, um lugar onde as pessoas adquiriam conhecimentos vários, tinha um sistema de avaliação comparativo. Neste sistema de avaliação, alguém era melhor ou pior que o seu colega do lado e Sírius percebeu apenas por isto que nesta altura o problema da sobrevivência dos homens não estava resolvido e que ainda se baseava na competição entre humanos. Sírios pensou como isto seria angustiante para uma criança como ela. Conhecer tinham-lhe ensinado, era um prazer determinado por cada um. Ela sabia na medida em que a sua curiosidade lhe fazia perguntas. Nunca, pensou ela, soube alguma coisa por ser obrigada ou para ser melhor que outra menina. Que realidade estranha e primitiva, pensou Sírios. A menina tomou também conhecimento que as sociedades desse tempo se encontravam estratificadas e que as decisões eram tomadas por apenas alguns homens que eram eleitos para esse efeito. Sírios comparou esta sociedade com a sua e pensou que entretanto muitas coisas haviam mudado. Todas as decisões tomadas na sua nave espacial eram determinadas duma forma directa por todos e todos tinham exactamente os mesmos direitos e obrigações, o que, pensou Sírius, não seria possível numa sociedade estratificada. A menina transportou-se para o dia em que os habitantes da nave tiveram de tomar uma opção relativamente ao percurso da viagem. Alguns dos seus companheiros de viagem acreditavam que a melhor forma de ultrapassar a cintura de asteróides que se segue a Marte seria a de simplesmente utilizarem o escudo da nave, que tinha sido concebido de forma a suportar o impacto de corpos de tal envergadura. No entanto, outros viajantes pensavam de maneira diferente. Acreditavam que não deviam interferir de nenhuma maneira com o que era a organização do sistema solar tal como a conheciam e isso significava que deveriam evitar a todo o custo a destruição de qualquer corpo deste, ainda que fosse apenas um asteróide. Sugeriam então simplesmente uma alteração da rota da nave espacial.
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Perante estas duas opções divergentes, cada um dos habitantes da nave espacial reflectiu profundamente quanto à que seria a melhor, e cada um foi introduzindo a sua opinião na base de dados da rede da nave. Sírius também participou nesta escolha, o que pensou, tinha custado dias de reflexão e estudo intensos. Sírius perguntou-se se tal sistema seria possível nas sociedades primitivas. Afinal, pensou Sírios, o nível de instrução era bastante desigual e portanto nem todos os homens poderiam compreender o alcance dos problemas que lhes eram colocados. A menina questionou-se perante o caminho, por vezes tortuoso, da humanidade, em direcção ao seu presente. A menina questionou-se igualmente relativamente à vida dum humano nesta história interminável de evolução humana. Um homem é indissociável do seu contexto e a sua vida completamente condicionada pelo seu tempo, pensou Sírius. As esperanças e desejos dos homens de ontem, não são mais que o meu presente, continuou a menina. Com uma espírito que não era bom nem mau, com um espírito humano, Sírius procurou a imensidão do Universo. No espaço tinha surgido uma estrela extraordinariamente brilhante, que a menina identificou imediatamente como uma supernova. Neste Universo que determinou o espaço e o tempo, que se expande e nos deixa mais distantes de outras civilizações, há vidas que se desenrolam sem outra consciência que não a nossa. Sírios pensou que não as achávamos boas ou más por não lhe atribuirmos nenhuma vontade. A humanidade não é fundamentalmente boa, pensou Sírios. No entanto talvez esteja exactamente nesse ponto a grandeza da nossa espécie. A nossa consciência evoluiu da barbárie ao meu presente, e todo o ser humano participou nesta luta de vontades. Sírios, olhou a supernova e segredou-lhe ao ouvido: “O meu olhar é toda a tua vida.”
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FIM
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